sexta-feira, 8 de maio de 2015

Por que deveríamos estar fazendo mais coisas sozinhos

O seguinte artigo é uma tradução livre desse artigo.

Toda a sexta-feira, bares, restaurantes e cinemas tendem a encher de gente passando tempo com seus amigos, parceiros e familiares. E quando vem o fim de semana, aqueles que se encontrarem sozinhos serão provavelmente vistos no sofá, em casa, fazendo qualquer atividade isoladamente.
Nada particularmente estranho aqui. Mas talvez estejamos deixando passar o momento em que automaticamente escolhemos ficar em casa quando não temos planos de sair com alguém.
"As pessoas deixam de fazer coisas toda a hora só porque estão sozinhas," alega Rebecca Ratner, professora de marketing na Escola de Economia Robert H. Smith, que passou mais de meia-década estudando o porquê de sermos tão relutantes a nos divertimos sozinhos e como estar só pode levar a, bem, menos diversão em geral. "A questão, no entanto, é que as pessoas provavelmente estariam mais felizes saindo e fazendo alguma coisa."
Ratner tem um novo estudo intitulado, em tradução livre,  "Inibido de jogar boliche sozinho", uma referência ao livro de Robert Putnam sobre a participação decrescente de americanos em atividades em grupo, que está programado para lançamento no Journal of Consumer Reasearchem agosto. Nele, ela e a coautora Rebecca Hamilton, professora de marketing na Escola de Economia McDonough, descrevem suas descobertas: frequentemente subestimamos o quanto poderíamos desfrutar  de uma ida a um show, a um museu, a um teatro ou um almoço num restaurante - sem companhia. Esse engano, debate a autora, só está se tornando problemático porque as pessoas estão trabalhando mais, casando mais tarde e, definitivamente, descobrindo-se com menos blocos de tempo livre.
As conclusões germinam de cinco experimentos separados. Em quatro deles, as pesquisadoras investigaram indivíduos sobre certas atividades, examinando se estes preferem desenvolvê-las acompanhados ou sozinhos. No quinto, Ratner e Hamilton testaram as preferências comparando as atividades feitas com companhia e sem, estimando se ir à galeria de arte acompanhado foi realmente melhor do que ir só. O que elas descobriram é que as pessoas temiam aproveitar menos a galeria sós, quando na verdade a tendência é ter o mesmo aproveitamento da atividade com ou sem companhia. 
"Quando comparamos uma experiência que é bem parecida com ou sem companhia, como visitar uma galeria ou ir ao cinema, acha-se pouca diferença na apreciação," afirma Hamilton. "Ir ao restaurante pode ser um pouco diferente, porque há o elemento da interação e conversa com outro, mas isso não torna irreal o fato de que ir ao restaurante sem companhia pode também ser agradável."
Aliás, a questão não é a possibilidade de nos divertimos mais com amigos do que sem eles. É sobre aqueles momentos em que não temos ninguém para nos acompanhar até o cinema ou comer naquele restaurante novo, e o desconforto de sair sem companhia aparece - embora a atividade não necessariamente precise de outra pessoa além de você.
"A realidade é que você está perdendo muita diversão", alega Ratner. "Todos estamos."
Por quê? Ratner afirma que é porque nos inibimos constantemente.
"Pensamos que não aproveitaremos o suficiente porque estaremos preocupados com o que as pessoas vão pensar", complementa a autora. "Acabamos por ficar em casa em vez de sair e fazer qualquer coisa porque tememos que os outros pensem que somos fracassados."
No entanto, acontece que as outras pessoas não estão julgando-nos ou pensando sobre nós tão intensamente quanto presumimos. Nem perto disso, na verdade. Há uma longa linha de pesquisa que mostra o quão frequentemente superestimamos o interesse alheio em nossos assuntos. O fenômeno é tão famoso que há inclusive um nome na psicologia: o efeito holofote. Um estudo de 2000 conduzido por Thomas Gilovich comprovou que constantemente ajustamos nossas ações de acordo com a perspectiva dos outros, mesmo que tais ações sejam ignoradas na prática. Muitos outros pesquisadores confirmaram desde então o padrão de pensamento egocêntrico que molda como agimos."Se fizéssemos as pessoas perceberem que está tudo bem em sair e fazer algo por prazer - sem companhia -, conseguiríamos nos livrar do estigma," diz Hamilton. Como exatamente vamos erradicar o estigma ainda é um mistério. Por agora, estabelecimentos poderiam ser mais acolhedores de pessoas fazendo atividades sozinhas."Mesas preparadas para somente um cliente, por exemplo, poderiam ser uma suave, mas importante iniciativa," afirma Ratner.
Outra solução poderia ser ajustar como as pessoas percebem suas atividades. Ratner e Hamilton descobriram que tendemos a ser muito mais receptivos a fazer algo sem alguém quando é uma experiência de aprendizado. Por isso, trazer material para a leitura num café ou restaurante tende a instaurar uma nova roupagem à experiência. No entanto, ao fazer isso também estamos disfarçando nossa vergonha de não termos companhia."O livro nos faz parecer pessoas ocupadas e atarefadas, escondendo a nossa possível falta de amigos," diz Hamilton.
O melhor jeito de livrarmos do estigma de fazer coisas sem companhia em público é provavelmente... começar a sair sem companhia mais vezes!
"Precisamos mudar as normas um pouco. Precisamos de pessoas que pensam que é super maneiro sair e se divertir só," diz Ratner. "Alguém precisa começar a nova moda."